IDENTIFICAÇÃO DE
NUVENS NAS IMAGENS DE SATÉLITE
(de uma forma muito elementar)
O satélite Meteosat é operado pela Eumetsat. é um Satélite geoestacionário (gira em simultâneo com a Terra) e localiza-se a cerca de 36.000 Km à vertical do Equador.
O satélite Meteosat é um dispositivo com três canais de registro de resposta espectral: canal Visível (0,45-1,00 µm), canal Infravermelho (10,5-12,5 µm) e canal de vapor d'água (5,7-7,1 µm). ( µm = 10-6 do metro)
As imagens são obtidas a cada meia hora. O canal Visível rastreia cerca de 5.000 linhas onde cada linha tem cerca de 5.000 pixels; no canal Infravermelho, cada linha tem 2.500 pixels, levando à resolução de 5 km e 2,5 km respectivamente no ponto Nadir do satélite. Devido à curvatura da terra, a resolução diminui na direcção da borda da imagem
A interpretação da imagem de satélite meteorológico baseia-se no entendimento dos conceitos ligado aos espectros rastreados pelos sensores do Canal Visível (comprimento de onda = 0,65 µm), e Canal Infravermelho (comprimento de onda = 11 µm).
A banda do espectro electromagnético ao qual o olho humano é sensível (Visualização do arco íris) situa-se sensivelmente entre os 0,43µm e os 0,7µm
A superfície terrestre ou as nuvens não emitem radiação visível, reflectindo aquela que está chegando do Sol. Assim, as imagens neste canal representam mais ou menos a intensidade do brilho dos elementos que seria percebida por um observador do espaço.
As nuvens densas são representadas em tons esbranquiçados e quanto mais densa, mais brilhante. No entanto, não é possível a distinção da altura das nuvens neste canal. Para isto, a interpretação do canal IR é essencial.
Portanto, nas imagens deste canal :
Canal Infravermelho (IR)
Nestes comprimentos de onda, a atmosfera (ar + vapor) absorve pouca radiação. No entanto, as nuvens são densas o suficiente para absorver a radiação (e emitir) de maneira significativa.
Assim, temos :
CARACTERÍSTICAS QUE AJUDAM NA IDENTIFICAÇÃO DE NUVENS
Tipos de nuvens individuais podem
ser identificadas pela observação de várias características das nuvens nas
imagens do VIS (visível). São elas:
BRILHO, TEXTURA E PADRÃO
ORGANIZACIONAL
DEFINIÇÃO DAS BORDAS, TAMANHO E FORMA
INDIVIDUAL.
BRILHO: O brilho de uma nuvem numa imagem de satélite no VIS é uma
das melhores dicas para a identificar e determinar as suas características. O Brilho
pode ser usado frequentemente para indirectamente determinar a espessura e a
altura de uma nuvem. Em geral, altos brilhos no VIS estão associados a
nuvens espessas, as quais tendem a reflectir mais a radiação solar do visível.
Portanto, nuvens espessas aparecerão brancas ou de um cinza muito claro nas
imagens VIS. Nuvens finas, aparecerão mais escuras ou mesmo transparentes
no VIS. No IR (infravermelho) brilho alto está relacionado a topos
frios. Portanto, nuvens muito altas, com tropos frios aparecerão brancas ou com
tom de cinza muito claro nas imagens IR. Nuvens baixas, quentes,
aparecerão como um tom de cinza mais escuro ou podem mesmo estar "misturadas"
com a cor da superfície ou com a água.
TEXTURA: é a segunda característica de uma
nuvem que pode ajudar na sua
identificação. Essa característica pode apenas ser vista em imagens VIS,
uma vez que é uma função da quantidade de sombra que está obscurecendo partes
das nuvens. Nuvens que têm uma "lombada" ou crescem verticalmente exibem sombras
que podem ser notadas. Isso é frequentemente referido como uma textura rugosa
(lumpy). Nuvens com aspecto liso, não possuem geralmente muitas sombras nos seus
topos. Essas nuvens são ditas com textura "lisa" (smooth). Entretanto, nuvens
com textura "lisa" podem causar sombras nas nuvens mais baixas ou no chão, mas
apenas nos seus limites externos. Algumas nuvens de níveis elevados podem
"espraiar-se" conforme os ventos sopram. Normalmente, essas nuvens possuem um
aspecto fibroso nas imagens VIS.
PADRÕES DE ORGANIZAÇÃO: As nuvens podem possuir diferentes padrões de
organização, incluindo organização em bandas, linear, circular, e celular. Estes
podem ser identificados pela definição das suas "bordas" (edge definition), as
quais podem ser bem ou mal definidas. O tamanho e a forma de elementos
individuais de nuvens pode também ser útil na determinação de quais tipos de
nuvens estão presentes numa imagem.
Em
geral, o método mais efectivo de identificar tipos de nuvens individuais é
obtendo uma imagem VIS e IR da mesma hora. A imagem VIS
pode ser usada para identificar a forma da nuvem, texturas, padrões de
organização e espessura. Esses dados podem então ser comparados com a imagem IR de modo a determinar a altura das nuvens. Quando toda essa informação
é colocada junta, é possível fazer uma análise fiável dos tipos de nuvens que
estão presentes na imagem e o "tempo" associado a cada uma delas.
Imagem IR das 09:30 do dia 01/05/04 |
Imagem VIS das 09:30 do dia 01/05/04 |
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a) Nuvens Estratiformes
As
nuvens estratiformes formam-se numa atmosfera estável e são caracterizadas por
uma aparência lisa. As nuvens Estratos são nuvens baixas que
frequentemente cobrem o céu todo e criam uma aparência cinzenta de céu
encoberto. Nuvens estratos podem estar acompanhada por uma chuva fraca mas
constante, chuvisco ou mesmo grãos de neve.
Nas imagens de satélite, nuvens estratiformes estão caracterizadas por topos
lisos e ausência de um padrão organizado. Os limites dessas nuvens são
frequentemente definidos pela topografia. Uma vez que essas nuvens se
desenvolvem a uma baixa altitude, as suas temperaturas tendem a ser quentes;
portanto, elas usualmente aparecem como escuras a cinza médio em imagens
IR. Nuvens estratos são frequentemente difíceis de distinguir das
superfícies da terra quando o contraste de temperatura entre terra e nuvem é
pequeno. Nas imagens VIS, contudo, essas nuvens podem ser muito
brilhantes quando são espessas. Sombras não irão geralmente
aparecer no topo dessas nuvens; contudo, podem ser visíveis no solo próximo dos
limites da nuvem estratos.
IDENTIFICAÇÃO DE NEVOEIRO (FOG)
A identificação de nevoeiro é um aspecto muito importante da meteorologia por satélite. Nevoeiro é simplesmente uma nuvem Estratos que se formou no nível do solo. A identificação do nevoeiro em imagens de satélite pode melhorar os sistemas de alerta; contudo, a sua determinação não é nada fácil. Saliente-se que só se pode identificar perfeitamente este fenómeno com imagens da banda do visível (só existente quando há luz solar no local).
Em
imagens VIS, os nevoeiros parecem ter uma textura lisa, lembrando uma
nuvem estratos. Isso torna difícil distinguir nevoeiro de nuvem estratos. Nas
imagens IR, o nevoeiro aparece como uma sombra em cinza, quando pode ser
distinto. Se a temperatura da superfície da terra é aproximadamente a mesma que
a temperatura do topo do nevoeiro, esse torna-se aproximadamente impossível de
ser visto em uma imagem IR por causa do pouco contraste terra-nuvem. Se
isso ocorre à noite, quando não existe nenhuma imagem VIS para ajudar na
interpretação, "áreas cobertas de nevoeiro podem não ser
notadas".
Geralmente, VIS e IR são usadas em combinação para localizar o nevoeiro. Quando múltiplas ou imagens espaçadas no tempo estão disponíveis, uma boa regra a seguir é que se a superfície lisa, branca da nuvem não se move, é usualmente nevoeiro. Também, conforme o nevoeiro evapora, usualmente dissipa de fora para dentro, diminuindo o limite externo. O nevoeiro pode também ser identificado, às vezes, pela variação repentina dos limiares externos, tais como montanhas ou vales de rios, que limitam a área em que o nevoeiro pode cobrir. Nevoeiro de superfície pode ser identificado porque está frequentemente restrito à áreas de vales. Por exemplo, na Figura 3, a imagem VIS mostra o nevoeiro contornado pelas cadeia montanhosas que envolvem o vale de Múrcia.
Em
regiões montanhosas, os vales frequentemente estão cobertos por nevoeiro,
enquanto o topo das montanhas permanecem claros. Isto produz uma imagem na qual
os vales aparecem como linhas brancas que estão arranjadas no padrão da drenagem
do fluxo dos rios. Se os vales das montanhas formam um padrão dendrítico
(formato como uma árvore), serão vistas linhas brancas com o mesmo padrão
dendrítico. Se os vales de montanha são séries de vales paralelos, o nevoeiro
também será caracterizado como uma série de linhas paralelas nas imagens.
NUVENS CUMULIFORMES
Nuvens cumuliformes formam-se numa atmosfera instável, na qual o ar sobe (e
também desce), determinando o desenvolvimento vertical das nuvens. As nuvens cúmulos
formam-se na região das correntes ascendentes. Tendem a ser irregulares
na forma e aparecerem como flocos de algodão. Entre nuvens cúmulos o ar é
descendente. Nuvens cúmulos isoladas estão geralmente associadas a bom tempo. Do
espaço, nuvens cúmulos baixas aparecerão como elementos de nuvem com forma
irregular, de vários tamanhos. O solo será frequentemente
Nuvens estratocumulus
Em
alguns casos, as nuvens cúmulos começam a se desenvolver sobre uma certa área
mas uma camada de inversão inibe as nuvens de possuírem um desenvolvimento
vertical mais acentuado. Isso faz com que as nuvens cúmulos se espalhem e
desenvolvam uma aparência em camadas, similar às nuvens estratiformes. Essas
nuvens, tendo características de ambas estratos e cúmulos, são chamadas
estratocumulos. Em imagens de satélite, estão frequentemente organizadas
em camadas, linhas ou nos chamados "padrões de rua", especialmente sobre a água
no inverno. Estas aparecerão em um cinza médio nas imagens IR enquanto
nas imagens VIS aparecerão bem brilhantes e rugosas.
Tipo |
Conteúdo |
Altura da Base |
Característica |
VIS |
IR |
Combinação de estratos e Nevoeiro |
Água (pode ser gelo no inverno ou em
altas latitudes) |
Menos que 1 km |
Topos alisados. Limites frequentemente
bem marcados e definidos pela topografia |
Branco brilhante a cinza médio quando
espessas. Quando finas, podem ter uma aparência menos brilhante ou com variações
de cores. |
Uniforme escuro a cinza médio,
variando com as mudanças sazonais e temperatura. Difícil detectar quando a
diferença terra-nuvem é pequena |
Altocumulos e altoestratos |
Água e/ou gelo |
2 a 4 km |
Topos alisados, frequentemente em
camadas; limites podem ser tanto ‘rasgado’ quanto lisos. Estrutura celular
de altocumulos muito pequena para ser distinta dos altoestratos.
Frequentemente associados com cirros de altos-níveis |
Cinza claro. Aparência estriada ou com
variação de cores, dependendo da da espessura ou da estrutura da
camada |
Uniforme
a cinza médio, dependendo da altura |
Identificação de nuvens: Nuvens Tipo Cumuliformes
Tipo |
Conteúdo |
Altura da Base |
Característica |
VIS |
IR |
Cúmulos |
Água (pode ser gelo no inverno ou em
altas latitudes) |
Menos que 2km |
Pequenos elementos individuais, com
forma irregular. Sombras quando o ângulo solar é baixo |
Medianamente brilhante |
Escuro a cinza médio. Pequenas nuvens
e elementos individuais podem ser difíceis de detectar |
Cumulonimbos |
Água e gelo misturados |
Menos que 2km |
Globulares ou em forma de "cenoura",
dependendo dos ventos de altos níveis. Topos podem ser rugosos e podem
atingir de 10 a 18 km, dependendo da intensidade da tempestade |
Muito brilhantes; sombras distintas
quando o ângulo solar é baixo |
Muito
brilhantes, especialmente em áreas activas de crescimento do topo da
nuvem |
Estratocumulos |
Água (pode ser gelo no inverno ou em
altas latitudes) |
Menos que 2km |
Formato irregular, com características
globulares ou celulares. Podem estar arranjados em linhas ou grupos. Os
limiares da nuvens frequentemente tocam uns aos outros. A textura pode ser
rugosa |
Brilhantes no centro; bordas são cinza
onde a nuvem afina |
Uniforme
cinza escuro. Estrutura celular não é evidente. Difícil detectar onde o
contraste nuvem-terra ou nuvem-água é pobre. |
Torres de Cumulus (Towering cumulus) e Cumulonimbus:
Quando nuvens cumuliformes se formam numa atmosfera instável, as nuvens crescem bem altas e desenvolvem-se em torres (towering cumulus). Em casos extremos, quando uma torre atinge altas altitudes, ventos de altos-níveis frequentemente irão fazer com que o topo da nuvem se espalhe seguindo a direcção do vento, afastando-se da base da nuvem. A nuvem passa a apresentar um topo plano com uma aparência de bigorna. Esse tipo de nuvem é conhecido como uma nuvem cumulonimbus (ou nuvem de trovoada) e pode assim estar associada com fortes ventos, granizo, chuva forte e até tornados. Em imagens de satélites essas nuvens aparecem bastante brilhantes tanto no VIS quanto no IR, uma vez que são caracterizadas por um desenvolvimento vertical elevado, tornando-as espessas e com topos altos e frios. Nas imagens VIS os topos dessas nuvens são frequentemente rugosos e aparecem sombras onde as nuvens penetram acima da bigorna.
Casos Práticos de identificação de nuvens
Meteosat IR 05:30 Horas UTC de 13 de Abril de 2003 |
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Imagens das 15 horas UTC do dia 11 de Novembro de 2004 |
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Zona de Beja, quer na imagem do visível quer do infravermelho, as nuvens em causa são estratocumulos (LPBJ 111500Z 02012G22KT 9999 SCT025 15/06 Q1015). Zona de Valência, Albacete e Alicante, e Madrid (Torregon) quer na imagem do visível quer do infravermelho, as nuvens em causa são estratocumulos, Altocumulos e Cirros. Se reparar existe uma mancha muito branca no IR (sinónimo de temperaturas baixas=nuvensAltas) e se compararmos com o VIS observa-se relevo, deduzido pelas sombras, o que demonstra ser uma mancha compacta de nuvens essencialmente cumuliformes, não havendo a esta hora precipitação, como se pode observar nos METAR´s (LEVC 111500Z 14004KT 9999 FEW030 SCT050 BKN160 15/02 Q1010 - LEAB 111500Z 06014KT 9999 FEW040 BKN200 11/M02 Q1011 NOSIG - LEAL 111500Z 12005KT 080V150 9999 FEW035 SCT150 BKN200 16/M02 Q1010 NOSIG - LETO 111500Z 35017KT 9999 SCT040 SCT080 BKN140 10/01 Q1013 NOSIG) Zona de Córdoba, Granada quer na imagem do
visível quer do
infravermelho, as nuvens em causa são Estratocumulos, (LEBA 111500Z
04011KT 020V090 9999 BKN045 17/03 Q1012 - LEGR
111500Z 04012KT 010V090 9999 FEW040 SCT053
11/M02 Q1011 ) Zona de Vitória, Saragoça quer na imagem do visível quer do infravermelho, as nuvens em causa são Estratocumulos, Altocumulos e Altoestratos(Junto à faixa costeira) (LEVT 111500Z 34008KT 9999 FEW025 SCT040 BKN060 08/05 Q1017 - LEZG 111500Z 31024KT 9999 FEW040 SCT090 11/03 Q1012
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Nesta imagem do IR das 5H30 (não é possível a esta hora ter imagens do VIS) pode-se observar uma vasta área muito branca, que vai de Alicante-Valência-Lérida que se estende por Ciudade Real Madrid, e vem até Salamanca, sendo as zonas mais activas as zonas de Múrcia e entre Albacete e Ciudade Real, como se pode observar a imagem de precipitação no Radar meteorológico. É uma imagem típica de muita actividade vertical, com muitos Cumulonimbos. Se compararem com o exemplo anterior, pode-se observar que a brancura é quase idêntica, mas nesta os contornos são muito definidos. Saliente-se que foi neste dia que houve o acidente de Leiria (Almansa) e que Setúbal que tinha condições de solta, durante as primeiras horas da manhã em Alcoleia e esteve 20 horas consecutivas debaixo de água. |
Texto e desenhos elaborados por: CAP\TOMET Fernando Garrido
Imagens de Radar: Instituto Nacional de Meteorologia (Espanha)
Imagens de Satélite: Eumetsat