Professor Doutor Joaquim Rodrigues Branco 1923-2006

Professor Doutor Joaquim Rodrigues Branco
1923-2006

Breves notas do seu currículo

1. DADOS PESSOAIS

Joaquim Rodrigues Branco, nasceu a 2 de Agosto de 1923, em Santa Marinha (Vila Nova de Gaia), licenciou-se em Medicina em 14 de Dezembro de 1949, com 16 valores.

A Universidade de Coimbra contemplou o Prof. Doutor Joaquim Rodrigues Branco com as insígnias doutorais, em sessão solene presidida pelo então magnífico reitor professor doutor António Jorge de Andrade Gouveia, cerimónia realizada em 19/9/1966.

2. ACTIVIDADE FUTEBOLÍSTICA

O interesse pelo futebol começou quando ainda era bastante jovem, devido à influência de seu pai, adepto desta modalidade, e os exemplos fornecidos por seu irmão mais velho que jogava futebol no clube da terra natal, o Sporting Clube de Coimbrões, e que o levaram a iniciar a sua actividade neste clube.

Feitos 18 anos, passou a fazer parte da primeira categoria de seniores do clube, que militava na 2.ª divisão da Associação de Futebol do Distrito do Porto. Durante os três anos seguintes manteve-se naquela categoria.

Aos 20 anos foi seleccionado para a 2.ª Divisão daquela Associação.

No mesmo ano fez parte da equipa de futebol da Universidade do Porto, que ganhou o campeonato universitário.

Recebeu, então, convite da Associação Académica de Coimbra para fazer parte da sua secção de futebol.

Esta Associação conceder-lhe-ia uma bolsa de estudo que englobava alojamento, propinas e alimentação, tal como sucedia com a maioria dos estudantes/futebolistas.

Graças a estas condições, à camaradagem desenvolvida, não só com os elementos da secção de futebol, mas também, com os colegas de curso e outros alunos, além do apoio concedido por vários simpatizantes da Associação Académica, conseguiu finalizar o curso de Medicina, iniciado antes na Universidade do Porto.

Na equipa da AAC ocupou, quase exclusivamente, os lugares de médio de ataque e defesa-direito.

Tomou parte em duas finais: uma da 2.ª Divisão Nacional (1949) e outra da Taça de Portugal (1951).

Durante os cerca de 13 anos que praticou futebol não lhe foi aplicada qualquer expulsão ou punição escrita. Houve épocas em que foi o futebolista que realizou o maior número de jogos no somatório dos encontros particulares e oficiais.

No final da sua actividade futebolística, a título gracioso, desempenhou funções de treinador na Lusitânia Desportivo Clube de Coimbra, da Associação de Pombal, e do Clube de Futebol "Os Marialvas", em Cantanhede.

3. ACTIVIDADE COLUMBÓFILA

Era ainda criança, tinha oito anos de idade, quando o pai lhe ofereceu um casal de pombos-correio. O seu alojamento processou-se em local espaçoso mas não exposto ao sol e bastante húmido. Cerca de dois anos depois, um columbófilo amigo e vizinho presenteou-o com outro casal que foi colocado no local acima referido. Tratava-se de um columbófilo de elevado nível, com pombos de boa qualidade e diferentes linhas, quer nacionais, quer estrangeiras.

Não conseguiu retirar destes casais qualquer descendente, pois os filhos morriam ainda pequenos.

Algum tempo depois outros pombos vieram ocupar um novo pombal, exposto ao sol, longe da humidade e melhor construído e aí se desenvolveram borrachos normais, apesar de a alimentação ser pouco variada. Com cerca de 12 anos de idade teve oportunidade de enviar alguns pombos a um concurso de Coimbra, realizado pela Sociedade Columbófila de Coimbrões, de Vila Nova de Gaia. Temendo que os pombos sentissem falta de alimentação desde o momento de encestamento até à chegada da viagem, introduziu-lhes algumas favas pelo bico. Foi com alegria que viu chegar o primeiro dos pombos enviados mas não esquece que, ao poisar, o mesmo bateu com o papo na trave que sustentava uma pequena ramada existente no pátio de sua casa.

Verificou-se que esse pombo tinha ainda apreciável quantidade de alimentação no papo o que não mais esqueceu.

Decorreram alguns anos e passou, então, a ter possibilidade de enviar pombos a concurso com certa regularidade, primeiro na Sociedade Columbófila de Coimbrões e, durante algum tempo, na Sociedade Columbófila da Madalena, ambas situadas em Vila Nova de Gaia.

Tinha então 16 anos, visitou vários pombais de bons columbófilos, tomou conhecimento com alguns dos cuidados que dispensavam aos pombos, mas os resultados em provas de voo não eram satisfatórios. Assim foi adquirindo maior experiência, mas não possuía literatura dedicada a este desporto.

O tempo dispensado aos pombos era escasso, uma vez que, tinha de contemplar, prioritariamente, os estudos e ainda o futebol e algumas actividades caseiras.

Manteve interesse pela columbofilia, tendo deixado na terra natal pombos, pombal e restante família.

Os pombos passaram então a ser cuidados por sua irmã muito querida, que recorda com saudade, e de acordo com correspondência trocada para o efeito.

Passaram-se assim mais alguns anos, mesmo para além da licenciatura e somente voltou a desenvolver directamente actividade columbófila depois de abandonar a prática do futebol. Foi este desporto que tornou possível estabelecer mais contactos columbófilos, inclusive uma viagem à Bélgica para disputar jogo com o Anderlecht, durante o qual adquiriu um casal de pombos na Grande Praça de Bruxelas.

Nessa data era habitual proceder-se, aos domingos pela manhã, à venda de pombos-correio nas praças de várias cidades belgas, costume que caiu em desuso. O preço dos pombos adquiridos foi perfeitamente suportável para a bolsa de um recém-licenciado e ainda sem emprego - 100 francos belgas, o equivalente a 60 escudos. Quando há alguns anos fez referência a este facto numa reunião com columbófilos belgas, a surpresa foi grande e o riso generalizado. A verdade é que esses pombos foram bons reprodutores.

Finda a actividade futebolística e já assistente da Faculdade de Medicina, passou a habitar a República do Ninho dos Matulões, no Terreiro da Pela, na alta coimbrã. Aí instalou um pombal bem orientado, de aceitável construção e espaço suficiente para o pequeno número de pombos que possuía - cerca de 16. Alguns destes pombos eram descendentes dos adquiridos em Bruxelas. Foi assim que passou a ser columbófilo activo em Coimbra, primeiro no Grupo Columbófilo dos Olivais e posteriormente, durante algum tempo, na Sociedade Columbófila de Coimbra, que acabava de reaparecer, e presentemente no Grupo Columbófilo de Coimbra.

O primeiro concurso em que participou foi Santarém e recorda-se ter sido vencedor um filho do casal belga atrás referido. Este resultado obtido por um columbófilo recém-chegado serviu de divertimento para os restantes amadores. Na semana seguinte, o concurso de Lisboa desenrolou-se com mau tempo e o desfecho deu razão a quantos haviam comentado, com certa ironia, o resultado da semana anterior. Os pombos chegaram atrasados e ainda perdeu dois atletas em quem depositava alguma esperança.

Analisou a situação e concluiu que os resultados obtidos poderiam, em parte, dever-se a más condições físicas dos pombos, uma vez que, cada casal alimentava dois borrachos bastante desenvolvidos e sem qualquer tipo de auxílio. Resolveu, por isso, suspender temporariamente a sua participação na campanha desportiva, aguardar alguns dias, separar as fêmeas, que passaram para um compartimento existente no quintal da república. Os machos eram submetidos a dois treinos diários, um pela manhã e outro à tarde, enquanto as fêmeas voavam à tarde, duas vezes por semana, processando-se a sua entrada no pombal onde se alojavam os machos, que, normalmente, eram retirados do pombal algum tempo antes de terminar o voo das fêmeas. Passou assim a executar uma viuvez "sui generis" pois não havia visto ou lido qualquer referência sobre situação semelhante.

Inicialmente passou a enviar a concurso somente machos e, algumas semanas depois, também as fêmeas.

Os resultados obtidos foram muito satisfatórios.

Chegou então o tempo de ler algumas obras sobre columbofilia, como sucedeu com "Pombos-correio", de Leão Maia, "La colombophile scientiphique", de Henry Landercy, "La preparacion para los concursos", de Vítor Perez Lerena, e alguns números do "Journal Le Sport Colombophilie" de N. e R. de Scheecmaecker. Foi precisamente nesta publicação que encontrou um artigo sobre viuvez, do qual retirou vários ensinamentos.

Casou-se, mudou de residência e os pombos acompanharam-no. Foi-lhe oferecido um pombal de madeira, que orientou para leste e colocou em local relativamente alto.

Continuou a praticar a viuvez e os resultados mantiveram-se em nível aceitável.

Dois anos depois, mudou novamente de residência, agora para Santa Clara, freguesia da margem esquerda do Mondego.

O local era bastante bom para os pombos e, apesar de o pombal se encontrar próximo da estrada principal, os resultados foram ainda melhores, tendo ganho o campeonato geral do Grupo Columbófilo dos Olivais e, no ano seguinte, o segundo lugar.

A viuvez que praticava continuava a ser próxima da anterior, mas as fêmeas encontravam-se alojadas num pequeno pombal, colocado imediatamente ao lado do que era habitado pelos machos. Quando terminavam o voo, as fêmeas entravam no seu próprio local.

Mudou ainda duas vezes de residência e os pombos sempre o acompanharam, mas os resultados baixaram um pouco de nível. A vida profissional exigiu que se ausentasse do país, primeiro em direcção ao Brasil (1956) e depois a França (1959-1961). A actividade columbófila foi assim interrompida até 1974. O interesse pela columbofilia manteve-se e sempre que possível visitou pombais e obteve literatura ligada a este desporto. Assim, durante a estada em França, adquiriu dois livros que ainda possuía e, ao tempo, de valor razoável, "le pigeon voyageur" de C. G. Vander Linden (1950) e "Le pigeon voyageur" do dr. J. Lahaye e dr. E. Cordiez (1952).

Em 1977, seu filho manifestou interesse pela columbofilia, o que o levou à construção de um pequeno pombal, em parte do terreno pertencente à habitação, onde habitou até há alguns anos atrás.

No final da década de oitenta e de noventa procedeu a diversos estudos com radiofármacos de que deu conhecimento em diferentes reuniões em Portugal, Espanha e ainda no Brasil.

Proferiu palestras sobre temas de columbofilia em vários locais do país e também no estrangeiro, como sucedeu nas Ilhas Canárias e Brasil (1991) e na Argentina (1995).

Colaborou em diversos cursos de formação de juízes classificadores locais, distritais e nacionais, não só como protector mas também por intermédio de algumas publicações e como examinador em Portugal e Espanha (Barcelona e Ilhas Canárias), 1990/1991.

Em 1992 foi indicado membro da Comissão Ibero-Latino-Americana para o estudo do pombo Standard.

Foi durante alguns anos presidente do Grupo Columbófilo de Coimbra e da Associação Columbófila do Distrito de Coimbra, desde 1985.

Foi juiz nacional do quadro da Federação Portuguesa de Columbofilia e participou em exposições locais, distritais e nacionais. A primeira teve lugar no antigo Pavilhão dos Desportos, em 1979.

Presidiu ao Conselho de Juízes da Federação Portuguesa de Columbofilia no triénio 1991/1994.

Fez parte do Conselho Superior de Disciplina da mesma federação.

Desempenhou o cargo de presidente do Congresso.

Foi vice-presidente da Federação Columbófila Internacional, tendo sido indigitado para o estudo do pombo de Sport.

4. Distinções de carácter desportivo

Afastado há alguns anos de toda a actividade columbófila devido a doença grave faleceu no dia 26 de Junho de 2006.