Pombos levaram poesia no correio

No ano em que se comemora o centenário do seu nascimento, Miguel Torga foi mais uma vez homenageado. 260 pombos-correio atravessaram o Rio Mondego, transportando poesia até à Escola EB 2,3 Poeta Manuel da Silva Gaio.

O memorial em homenagem a Miguel Torga, inaugurado em Agosto último, serviu de ponto de largada. Ali, mesmo em frente ao consultório onde exerceu medicina com o nome com que foi registado: Adolfo Rocha. Ontem, o Rio Mondego foi atravessado por 260 pombos-correio - 10 foram "mensageiros de Torga" - que transportaram poemas do escritor, mais tarde lidos, após a chegada ao pombal da Escola EB 2,3 Poeta Manuel da Silva Gaio, pelos alunos do Grupo de Teatro.

Logo pela manhã, a agitação junto à Ponte de Santa Clara foi grande. Os jovens alunos das escolas do Agrupamento Poeta Manuel da Silva Gaio, onde também se incluíram os da Escola EB1 da Almedina, reuniram-se para assistir a um "momento único" no âmbito das comemorações do centenário do nascimento de Miguel Torga. Uma homenagem "singela e bonita" - mais uma - promovida pela Federação Portuguesa de Columbofilia (FPC).Com a colaboração do declamador Machado Lopes, do Grupo Columbófilo de Coimbra e da Secção Columbófila do Clube de Futebol Santa Clara, que disponibilizaram a maior parte dos pombos-correio, a homenagem teve, ainda, a Escola EB 2,3 Poeta Manuel da Silva Gaio e o historiador Paulino Mota Tavares como promotores da iniciativa, que contou, ainda, com o descerramento na escola de um painel alusivo ao evento que recordou Miguel Torga.A curiosidade das crianças era grande. As dúvidas sobre se os pombos-correio chegariam à outra margem eram maiores. "Acho que vão perder-se!", comentava um menino, que logo ganhou outra dúvida: "Quem é que lhes ensinou o caminho?". Sabemos que não é fácil perceber, mas a verdade é que também é difícil explicar. Certo é que as aves orientaram-se e deram entrada no local programado para a chegada.

O médico José Tereso e presidente da FPC sublinhou que "evocar a figura de Miguel Torga e ler a sua obra equivale a sentir Portugal como um país essencialmente ligado à terra", anunciando que o escritor "olhava, com alguma desconfiança, para a sociedade e para o exercício asfixiante do poder".

"É com sol e pombas no ar, com o entusiasmo da juventude e das escolas e com alguns versos caídos sobre a terra, voando sobre o rio, com mensagens transportadas pelas aves da paz, que pretendemos homenagear a figura de Miguel Torga, que sempre haverá de ilustrar a literatura portuguesa e universal, Coimbra e o Mundo", concluiu José Tereso.

Depois de questionar os jovens alunos se sabiam que ali estava o monumento de homenagem a Miguel Torga e em frente, no Largo da Portagem, ficava o seu antigo consultório, Carlos Encarnação disse que "Torga voava na poesia, mas regressava sempre ao seu pombal, que era Coimbra".

Sublinhe-se que dos 15 pombos-correio da Escola EB 2,3 Poeta Manuel da Silva Gaio, apenas 12 participaram na homenagem, já que "dois são muito jovens (borrachos)", explicou Luís Marques, professor de Educação Visual e Tecnológica e responsável pelo pombal do estabelecimento de ensino da margem esquerda do Rio Mondego.

João Henriques